terça-feira, 13 de outubro de 2009

INDICO BLOG

Este blog é extremamente interessante pois trata de João do Rio- vida, obra e produção sobre este cronista,
Pra quem deseja estudar a temática a nivel acadêmico, vale a pena acessar e entrar em contato com quem também se interessa pelo assunto.

http://www.joaodorio.com/Arquivo/2006/10,11/index.htm

e espaços no Rio de Janeiro de João do Rio”.

A última década do século XIX esteve marcada por mudanças profundas para a nossa sociedade. A Abolição e a República foram marcos deste século que transformaram toda a ordem social, política e econômica vigentes até então. Outras mudanças, como as dos campos cultural e mental, também fizeram parte deste processo histórico, porém de forma mais lenta, sutil e complexa.
É também no fim de século XIX - a 5 de agosto de 1881 – que nasce João Paulo Alberto Coelho Barreto, o João do Rio. O João que de nome tão comum acabou por ser incomum, fez de seus olhares atentos e astutos para a cidade do Rio de Janeiro a sua marca.
O pseudônimo João do Rio nasce em 1903, na coluna “A cidade” do jornal Gazeta de Notícias, que contava também em seu corpo de jornalistas com Coelho Neto, Olavo Bilac e Emílio de Menezes. “A Gazeta era o jornal de vanguarda. Anunciador do novo tempo, foi o primeiro a trazer para o Brasil o modo de diagramação europeu e, junto, a divulgação das novidades de Paris e Londres” (RODRIGUES, 2000, p. 38). João do Rio foi singular no jornalismo carioca, apostava na investigação, anunciava o novo tempo, dava ao jornalismo a marca da literatura.
João do Rio ia às ruas buscar sua inspiração, observava os tipos urbanos e seus universos, era como um flâneur1 a capturar pelas ruas imagens, pessoas e pequenas cenas. Um exercício que envolvia não apenas a atividade jornalística ou literária, mas também a de historiador. Barreto fez do cotidiano da cidade e de seus tipos sociais documento. As reportagens de As religiões do Rio, para a Gazeta de Notícias, exemplificam a perspectiva por ele adotada. Nesta série, editada em livro no fim de 1904, o autor faz um verdadeiro inventário das religiões do Rio. Visita templos, terreiros, centros, casas e igrejas, descreve cultos, investiga rituais e relaciona diversas manifestações culturais de cunho religioso.
Em seu livro As religiões do Rio, o autor expõe ao leitor sua metodologia: interroga, perambula e observa criticamente pelo Rio de Janeiro. Assume a cidade como palco da diversidade e percebe a importância de descobrir diferentes tipos sociais. Acaba por romper categorias canonizadas como, por exemplo, a de o Brasil ser um país essencialmente católico. Utilizando a frase de Montaigne, como epígrafe, aparece em acordo com a antropologia2, faz um verdadeiro exercício antropológico através da cidade do Rio de Janeiro, pois além de investigar e observar a cidade, busca nela o que é diferente, se interessa pela alteridade e faz dela parte de seu contexto literário/ jornalístico.
Certamente que João do Rio em seu jornalismo literário, levanta aspectos relevantes sobre a época, seus contemporâneos e a cidade. A sua abordagem jornalística cultiva um estilo marcado pela presença da vivência pessoal, da experiência direta do cotidiano da cidade.
João do Rio dá alma às ruas, mas também expõe a sua alma ao mundo; na verdade, revela a alma do homem moderno, aquele que vive na cidade. Suas temáticas giram em torno da “subjetividade individual que enfrenta o ritmo da metrópole moderna e que nela encontra, ao mesmo tempo, a sedução e a ameaça” (VENEU, 1990, p. 230).
O Rio de Janeiro do início do século XX era, com certeza, uma cidade sedutora. As pessoas passeavam pelos parques, livrarias, boticas e cafés, freqüentavam os teatros e os salões. Era uma “boêmia dourada”, como expõe Brito Broca (2005), que passava a transcender os muros de suas casas. A modernidade chegou junto com o bonde e com o automóvel, ou seja com a velocidade, que permitia uma maior mobilidade às pessoas, mas também ocasionava maior vertigem, pressa e escassez de tempo.
Já na última década do século XIX, a cidade começava a se ver alterada por um crescimento verdadeiramente vertiginoso. Novos prédios, ruas, avenidas e multidões3, que também passaram a fazer parte do cenário urbano. Transeuntes indo e vindo do trabalho, apressados pelo relógio que não pára. São negros e brancos, cariocas, pernambucanos e cearenses; italianos, chineses, sírios ou portugueses; misturados, negociando seu espaço, apropriando-se da cidade e fazendo dela uma mistura de sons, cores, costumes e linguagens.
A idéia de multidão é paralela a de modernidade, está associada à livre circulação de pessoas, as massas, que no vai e vem do cotidiano assustam e/ou confortam com sua força coletiva, mas também garantem o anonimato, outro conceito caro à modernidade, uma vez que é a expressão da vertigem da metrópole, tão imensa em suas multidões, e ao mesmo tempo tão solitária em seu individualismo e em sua velocidade, uma espécie de passaporte para a liberdade de ir e vir.
A multidão que por um lado uniformiza as pessoas, por outro estimula a diferenciação, uma vez que pode permitir o espetáculo daqueles que querem ou conseguem se destacar neste novo universo populoso. Neste sentido a multidão tanto seduz quanto ameaça.
É neste contexto que está João do Rio, dentro da multiplicidade da cidade, do seu movimento, das suas multidões. Ele não é apenas um transeunte no vai e vem automático da metrópole moderna, é um artista, um flâneur, passeia pela cidade lançando seu olhar crítico. Descobriu que tudo pode ser literatura, e extrai do cosmopolitismo da cidade toda a sua inspiração. Circula pelas altas rodas de intelectuais, faz parte do mundo do luxo e da moda. Muito elegante, sempre impecável, é o que deixa perceber a biografia escrita por João Carlos Rodrigues (1949). Por outro lado, participa intensamente dos subterrâneos da cidade4. Em A alma encantadora das ruas, leva o leitor para um mundo que parece se esconder diante da metrópole maquete idealizada no governo Rodrigues Alves (1902-1906). Com João do Rio passeamos pelas ruas atrás da miséria, descobrimos Pequenas profissões5, conhecemos As mariposas de luxo6 e As mulheres mendigas7, experimentamos o cotidiano dos Trabalhadores de estiva8, ou até descobrimos as Visões d’ópio9.
Esta nova paisagem urbana foi sendo absorvida pela na literatura, que neste início de século XX emerge interligada a vida mundana. Os escritores escreviam a cidade, exploravam seus contornos e acabavam por acentuar seus antagonismos: Lima Barreto, Paulo Barreto (João do Rio), Machado de Assis, Coelho Neto e Olavo Bilac são exemplos de talentosos literatos que abordaram a cidade, cada um com seu estilo, seus valores pessoais e literários. Este rico circulo intelectual possibilitou diferentes olhares e percepções sobre a cidade.
A partir da iniciativa inovadora de João do Rio, presente na citação acima, o que muda não é apenas a crônica e o estilo de fazê-la, mas também a reportagem, que neste momento passava a contar com a entrevista e com a pesquisa de campo. A realidade jornalística também começava a sair das redações.
Pensando mais uma vez em João do Rio assumindo o ofício de historiador é fácil perceber a sua contribuição para a história oral, em grande medida, construída através de entrevistas e depoimentos, e para a história cultural e social, já que ao perambular criticamente pelas ruas fazendo entrevistas, colhendo depoimentos e vivenciando realidades, dá às suas crônicas – reportagens um valor historiográfico.
O livro O momento literário de João do Rio demonstra novamente a diversidade de suas perspectivas literárias. Este texto, de 1907, foi organizado a partir de entrevistas realizadas com 37 autores desta primeira década do século XX. Um inquérito com o que para ele seria a nata da literatura brasileira, e que pretendia traçar um panorama ou perfil literário da época. Como comenta Brito Broca, em A vida literária no Brasil – 1900 (2005), o escritor teria se inspirado em Jules Huret, que havia publicado, em Paris (1891), um inquérito investigando a situação do Naturalismo. É importante perceber o quanto a iniciativa de João do Rio demonstra sua vocação para crítico literário.
As entrevistas do Momento literário dão ao leitor uma oportunidade de ler as palavras daqueles autores sobre sua formação e preferências literárias, também acabam por revelar aos leitores mais sensíveis, o cotidiano destes escritores brasileiros que são lidos e reverenciados até os dias de hoje. É um privilégio poder participar de uma conversa entre João do Rio e João Ribeiro “à porta da Garnier, às três da tarde, hora em que aparecem os literatos e os diplomatas, para a conversação de praxe” (RIO, João, 1994, p. 20).
Uma pena que alguns literatos importantes da época não tenham percebido a significação da obra, e portanto, não tenham aceitado participar das entrevistas, como por exemplo Machado de Assis. Na verdade, para Machado, a relação entre literatura e jornalismo não era vista com bons olhos. Conservador, via esta variante literária como empobrecedora da “verdadeira” literatura. O momento literário tinha também como objetivo trabalhar exatamente esta questão: “O jornalismo, especialmente no Brasil, é um fator bom ou mau para a arte literária?” (RIO, João, 1994).
No quadro que se procurou esboçar a imprensa também havia se transformado. As inovações tecnológicas, o aumento do número de leitores e o crescimento da cidade exigiam dela mais velocidade, mais reportagens, mais artigos e crônicas. Mais cores, charges e caricaturas. Certamente isto influenciava na vida dos escritores, mas também a sua obra, pois havia um compromisso, às vezes diário, de fornecer escritos para os jornais. A partir de 1900, os periódicos foram optando por reportagens e notícias, sacrificando assim, os artigos. Não há dúvidas de que este fator alterou a atitude literária dos escritores que escreviam nos jornais. “Foi ao que se amoldou logo um João do Rio, fazendo da reportagem um gênero literário e vindo assim a servir simultaneamente ao jornalismo e à literatura” (BROCA, 2005, p. 288).
Em Cinematógrafo (1908) e A alma encantadora das ruas, livro editado neste mesmo ano, João do Rio assume definitivamente esta postura investigativa e inovadora dentro da literatura e da redação jornalística. Vai às ruas, penetra em diversos universos e se consagra. Faz-se respeitado pelo público e pela crítica. Em 1910 consegue sua vaga na Academia Brasileira de Letras. Paulo Barreto e seu estilo passam a ser reconhecidos como parte fundamental para a literatura da época.
“No discurso de recepção na Academia Brasileira de Letras, João do Rio se referia ao dépaysement10” (BROCA, 2005, p. 55). Olhando, mais uma vez, o mundo ao seu redor, percebia a decadência dos cafés, da boêmia intelectual das ruas, agora vertiginosas com o vai e vem dos automóveis e das multidões. A literatura passava a pertencer a um universo mais requintado, agora fazia parte dos salões, era uma “boêmia dourada”. “A literatura era cultivada como um luxo semenlhante àqueles objetos complicados, aos pára-ventos japoneses do art nouveau” (BROCA, 2005, p. 55).
Este início de século XX foi especialmente um momento de transformação. Em todas as esferas: políticas ou econômicas, culturais ou sociais, individuais ou coletivas. O Brasil era um novo país, perdera características e lógicas coloniais e conquistara a modernidade. O Rio de Janeiro, por toda a sua historicidade, por ser a capital, certamente foi o pólo irradiador e receptor das grandes transformações. Neste quadro, João do Rio, foi o grande inovador da crônica jornalística, com seu talento literário aumentou os contornos da cidade e lançou novos olhares e interpretações possíveis à realidade carioca.
Fernanda Marques
girassollle@yahoo.com.br

Notas
1. Flâneur, para Charles Baudelaire, em Sobre a Modernidade, um observador apaixonado, para quem estar fora de casa é na verdade, sentir-se em casa. O Flâneur deve ser um artista, ter alma de artista, e como coloca Antônio Edmundo, perambular com inteligência.Walter Benjamin acrescenta ainda, a figura do flâneur, o emblema do burguês do século XIX.
2. Ciência humana que estuda o homem. Quando relacionada à cultura, ou melhor, a alteridade cultural, que é o que neste trabalho é importante, muito bem coloca B.Malinowski: “A visão funcional da cultura repousa no principio de que em qualquer tipo de civilização, cada costume, objeto material, idéia ou crença, satisfaz alguma função vital, assim como certas tarefas realizadas representam uma parte indispensável para todo o trabalho”.
3. “As multidões”, conceito muito caro ao estudo da modernidade. Está relacionado à massa trabalhadora, a circulação de pessoas pela cidade. As multidões podem ser agasalhadoras dos solitários, mas também ameaçadoras aos economicamente mais abastados. “A multidão é o véu, através do qual a vida familiar se move para o flâneur, em fantasmagoria” (BENJAMIN, Walter. Écrits Français,“Paris, Capitale du XIX e siècle”, p. 301).
4. É importante compreender subterrâneos da cidade como “cidade paralela” e contrastante com o caráter opressor da cidade maquete, idealizada pela reforma Pereira Passos. Essa cidade que se manifestava escondida, conseguia burlar a opressão sofrida em prol de um ideal de civilidade. Suas manifestações conseguiram ampliar e transformar a memória cultural carioca.
5. Esta crônica foi publicada na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro em 6 de Agosto de 1904, aparecia com o título de “Profissões exóticas”. Posteriormente foi selecionada para o livro A alma encantadora das ruas com o novo título.
6. Esta crônica foi publicada na Gazeta de Notícias em 23 de Março de 1907. Faz parte do livro A alma encantadora das ruas. Seu título, “As mariposas de luxo”, se refere as mulheres sem dinheiro que todos os dias flertavam as vitrines das butiques de luxo, acompanhando a última moda parisiense que aparecia estampada nas vitrines cariocas.
7. Esta crônica foi publicada na Gazeta de Noticias em 30 de Maio de 1904. Foi a primeira publicação da série “A pobre gente. Entre os mendigos”. Faz parte do livro A alma encantadora das ruas.
8. Esta crônica/ reportagem foi publicada na Gazeta de Noticias em 19 de Junho de 1904. Faz parte do livro A alma encantadora das ruas.
9. Esta crônica foi publicada na Gazeta de Noticias em 7 de Janeiro de 1905. Retrata a vida dos chins no rio do início do século XX. Faz partedo livro A alma encantadora das ruas.
10. Expressão de se refere a um deslocamento do ambiente carioca. “A boêmia dos cafés se transforma na boêmia dourada dos salões” (BROCA, 2005, p. 55).
Continuando...




PORTUGAL, Aureliano. “Discurso proferido em 24 de Fevereiro de 1906 para a inauguração da fonte artística oferecida para a cidade por industriais portugueses” Rio de Janeiro: Typ. Gazeta de Notícias, 1906.
RIO, João do. A alma encantadora das ruas. Rio de Janeiro: Coleção Biblioteca Carioca, 1995. 3ª ed.
RIO, João do. O momento Literário. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1994.
RIO, João. As religiões do Rio. Rio de Janeiro: Gazeta de Notícias, 1904.
Fontes secundárias:
ABREU, Mauricio de A. Evolução Urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IPLANRIO/ Jorge Zahar, 1987.
AZEVEDO, André Nunes de. Rio de Janeiro Capital e capitalidade. Rio de Janeiro: UFRJ/Departamento cultural, 2002.
BAUDELAIRE, Charles. Sobre a modernidade. São Paulo: Paz e Terra, 1997.
BROCA,Brito. A vida literária no Brasil 1900. Rio de Janeiro: José Olympio/ Academia Brasileira de Letras, 2005.
DIAS, Maria Odila da Silva. Sérgio Buarque de Holanda, historiador. São Paulo: Ciência e cultura, 1985.
JUNIOR, R. Magalhães. A vida Vertiginosa de João do Rio. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
LESSA, Carlos. O Rio de todos os Brasis: uma reflexão em busca de auto-estima. Rio de Janeiro: Record, 2001.
LOPES, Antônio Herculano (org). Entre Europa e África: a invenção do carioca. Rio de Janeiro: Topbooks/ Casa Rui Barbosa, 2000.
NEEDELL, Jeffrey D. Belle Époque Tropical: sociedade e cultura de elite no Rio de Janeiro na virada do século. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
RODRIGUES, Antônio Edmilson Martins. João do Rio: a cidade e o poeta, o olhar de flâneur na Belle Époque Tropical. Rio de Janeiro: FGV, 2000.
RODRIGUES, João Carlos. João do Rio uma biografia. Rio de Janeiro: Topbooks, 1949.
SEVCENKO, Nicolau. Literatura como Missão: tensões sociais e criação cultural na Primeira República. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
VELLOSO, Monica Pimenta. A cultura das ruas no Rio de Janeiro: mediações, linguagens e espaços (1900-30). Rio de Janeiro: Casa Rui Barbosa, 2004.
________. “As Tias Baianas tomam conta do pedaço: espaço e identidade cultural no Rio de Janeiro”. In: Estudos Históricos. Rio de Janeiro, v.3, n.6. p. 207-228, 1990.
________. As tradições populares na Belle époque carioca. Rio de Janeiro: FUNARE, 1988.
VENEU, Marcos Guedes. “O flâneur e a vertigem: metrópole e subjetividade na obra de João do Rio”. Rio de Janeiro. In: Estudos Históricos. Rio de Janeiro, v.3, n.6. p 229-243, 1990.

Bibliografia

Bibliografia auxiliar ao texto: A ALMA ENCANTADORA DAS RUAS


CARVALHO, José Murilo de. Os Bestializados. O Rio de Janeiro e a República que não
foi. São Paulo, Cia. das Letras, 1987. Cap. 5.
CHALHOUB, Sidney. Trabalho, Lar e Botequim. O cotidiano dos trabalhadores no Rio de
Janeiro da Belle Époque. São Paulo, Brasiliense, 1986.
ESTEVES, Martha de Abreu. Os populares e o cotidiano do amor no Rio de Janeiro da
Belle Époque. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1989.
SILVA, Eduardo. As Queixas do Povo. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1988.
HERMANN, Jacqueline. in: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucília de Almeida Neves
(orgs.). O Brasil republicano, vol. 1, O tempo do liberalismo excludente da
Proclamação da República à Revolução de 30. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2003.
CHALHOUB, Sidney. Cidade febril: cortiços e epidemias na corte imperial. São Paulo:
Companhia das Letras, 1996, Cap. 3.









FAUSTO, Boris. "Controle social e criminalidade em São Paulo: um apanhado geral (1890-
1924)", in: PINHEIRO, Paulo Sérgio (org.). Crime, Violência e Poder. São Paulo:
Brasiliense, 1983.
__________. Crime e Cotidiano. A criminalidade em São Paulo 1880-1924. São Paulo,
Brasiliense, 1984. Cap. "Criminalidade e controle social".
PECHMAN, Sergio e FRITSCH, Lilian. "A Reforma Urbana e seu Avesso: algumas
considerações a propósito da modernização do Distrito Federal na virada do século",
Revista Brasileira de História. São Paulo, 5 (8/9), set. 1984-abr. 1985.
PEREIRA, Leonardo. As barricadas da saúde: Vacina e protesto popular no Rio de
Janeiro da Primeira República. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2002.
ROCHA, Oswaldo Porto. A Era das Demolições. Cidade do Rio de Janeiro: 1870-1920. /
CARVALHO, Lia de Aquino. Contribuição ao Estudo das Habitações Populares. Rio
de Janeiro: 1886-1906. Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura/Departamento
Geral de Documentação e Informação Cultural, 1986.
SOIHET, Rachel. "Mulheres ousadas e apaixonadas - Uma investigação em processos
criminais cariocas (1889-1930)", Revista Brasileira de História. São Paulo, 9 (18),
ago.-set. 1989.
PORTUGAL, Aureliano. “Discurso proferido em 24 de Fevereiro de 1906 para a inauguração da fonte artística oferecida para a cidade por industriais portugueses” Rio de Janeiro: Typ. Gazeta de Notícias, 1906.
RIO, João do. A alma encantadora das ruas. Rio de Janeiro: Coleção Biblioteca Carioca, 1995. 3ª ed.
RIO, João do. O momento Literário. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1994.
RIO, João. As religiões do Rio. Rio de Janeiro: Gazeta de Notícias, 1904

domingo, 11 de outubro de 2009

O Primeiro texto




Escrito durante o governo de Rodrigues Alves, A alma encantadora das ruas, talvez seja o livro mais conhecido de João do Rio. É seu terceiro livro e foi publicado em 1908 revelando um autor que apreendia a psicologia urbana e o espírito da época com a mesma obsessão dos colecionadores. Ele saturava seus textos de reminiscências decadentistas, mas o olhar que fixava no presente era o de um observador deslumbrado, onde vê as novas relações sociais que se desenham no coração daquela seria mais tarde chamada a Cidade Maravilhosa. A obra conta a vida de uma cidade em transformação, na qual coabitam personagens e espaços que, ao mesmo tempo que sobrevivem, já não existem como antes.
No início do século, iluminada pelas primeiras luzes da modernidade, o Rio de Janeiro já se revelava, aos olhos mais sensíveis, como uma cidade multifacetada, fascinante, efervescente na democracia da ruas.

As crônicas de A Alma Encantadora das Ruas mostram o significado e a própria essência da rua na modernidade. O homem não é qualquer um, mas o que vive no espaço urbano. Numa relação dupla, a sociedade faz a rua e esta faz o indivíduo:
"Há suor humano na argamassa do seu calçamento."
"Oh! Sim, a rua faz o indivíduo, nós bem o sentimos." (A rua)

A essência da identidade carioca já está presente nas linhas críticas e bem-humoradas deste João: a capacidade de criar soluções de sobrevivência, a paixão pela música, a riqueza do imaginário social, a espontaneidade da mistura cultural que constitui hoje a maior riqueza não apenas do Rio, mas de todo o Brasil.




O livro aborda questões alijadas da sociedade, como os trabalhadores, as cadeias e ladrões, unindo os fragmentos do Rio de Janeiro da época. As crônicas-reportagens da obra encenam o que mancha o projeto da cidade da virtude civilizada, que a ordem racional planejou (a cidade ideal); ganham o palco da escrita aspectos da antitética cidade do vício, símbolo e estigma dos males sociais.

Embora seu título lembre El alma encantadora de Paris (1902) do nicaraguense Enrique Gomez Carrillo, pela sua temática, está bem mais próximo de Les petites choses de Paris (1888) de Jean de Paris (pseudônimo do jornalista do Le Figaro Napoléon-Adrien Marx) e de Paris inconnu (1878) de Alexandre Privat d'Anglemont. É, no entanto, uma obra única e bem carioca, e não surpreende que tenha se transformado num clássico, enquanto os seus congêneres estrangeiros caíram no esquecimento, mesmo nos seus países de origem.

O que mais espanta nessa obra singular (talvez a mais interessante até hoje escrita sobre a cidade do Rio de Janeiro e sua população), mais ainda do que o brilhantismo do estilo, é a sua homogeneidade, ainda mais quando sabemos que é uma antologia de textos publicados anteriormente pelo autor entre 1904 e 1907 no jornal A Gazeta de Notícias e na revista Kosmos. No entanto, tudo flui tão naturalmente que temos a ilusão de estar lendo um livro escrito de um fôlego só.

A obra é dividida em cinco partes e inclui, na abertura e encerramento, duas conferências proferidas pelo autor em 1905: A rua, que tematiza o objeto das reportagens: o espaço público partilhado por todos, o espaço da diversidade, da diferença, “a mais igualitária, a mais socialista, a mais niveladora das obras humanas” (para reportar as figurações da rua, elege a metáfora biológica do corpo, que permite ler a cidade como algo familiar e instantaneamente apreensível. A leitura apóia-se em pontos de referência concretamente miméticos, ou culturalmente ligados à tradição, em que o narrador se ancora em seus trajetos pelos meandros do corpo urbano), e A musa das ruas (anteriormente intitulada Modinhas e cantigas). As outras três partes são compostas basicamente de reportagens, magníficos exemplos desse gênero, que o autor praticamente introduziu no jornalismo nacional. O que se vê nas ruas aborda as pequenas profissões dos biscateiros que perambulavam pelas ruas da cidade na virada do século: tatuadores, vendedores de livros e orações, músicos ambulantes, cocheiros, pintores de tabuletas de lojas comerciais e paisagens de parede de botequim; e também as festas populares da Missa do Galo, Dia de Reis e Carnaval. Dois desses textos (Visões d'ópio e Os cordões) extrapolam o gênero da reportagem e entram no da crônica. O mesmo podemos dizer de As mariposas do luxo, que abre a terceira parte, intitulada Três aspectos da miséria. Aqui aborda-se principalmente as condições de trabalho dos operários e a mendicância. As reportagens sobre o proletariado (Os trabalhadores da estiva e A fome negra) são pioneiras no assunto. A quarta parte, Onde às vezes acaba a rua compõe-se de seis reportagens entre os presos da Casa de Detenção, que ainda hoje, mais de 90 depois, impressionam pela atualidade.

Em nenhum outro livro a cidade do Rio de Janeiro aparece tão nitidamente, a ponto de dizermos que nele, a cidade é a protagonista da cena. E, mais importante, nesta obra vemos o amadurecimento da linguagem de João do Rio, a ponto de dizermos que um novo estilo literário é criado. Neste caso, a forma como o escritor capta e procura descrever a cidade, certamente representa aspecto fundamental para a compreensão deste amadurecimento estilístico. Em outras palavras, a cidade, em sua estrutura e em seus níveis de sociabilidade, influencia a criação de um novo estilo literário: o ritmo das crônicas ganha agilidade e variedade, a dicção se aproxima do prosaico para conservar o lirismo (um modo de realçar o que há de “encantador” nas ruas). Neste livro, vemos João do Rio como o escritor que, reunindo as qualidades do flâneur ("Flanar é ser vagabundo e refletir, é ser basbaque e comentar, ter o vírus da observação ligado ao da vadiagem [...] Flanar é a distinção de perambular com inteligência [...] O flâneur [...] acaba com a idéia de que todo o espetáculo da cidade foi feito especialmente para seu gozo próprio [...]. E de tanto ver o que os outros quase não podem entrever, o flâneur reflete [...]. Quando o flâneur deduz, ei-lo a concluir uma lei magnífica por ser para seu uso exclusivo, ei-lo a psicologar, ei-lo a pintar os pensamentos, a fisionomia, a alma das ruas") e do dandy, se sente seduzido pelo mundo que as ruas lhe oferecem, onde nasce um tipo de sentimento inteiramente novo e arrebatador, que carece de compreensão e vivência: o mundo encantador das ruas.

As crônicas-reportagens de A Alma Encantadora das Ruas são na verdade convites para acompanhar João do Rio em suas perambulações pelas ruas do Rio de Janeiro, são convites à “flanar” juntamente com ele, através de seu estilo, por sua visão de mundo. Um passeio poético pela “decadência exuberante” da capital da República.

Convidado a “flanar” com o narrador, o leitor penetra nos fragmentos da cidade, cuja alma configura um mosaico irredutível e imiscível, no qual o tipo urbano não é um simples produto de sua variedade mas a essência que a constitui. O que intriga ainda hoje ao ler estas páginas, não é perceber a acuidade de seu Autor, o modo como capta certas particularidades do momento histórico que o inspirou, mas perceber que tais particularidades são transformadas em linguagem literária, em estilo de escrita - traço que garante o prestígio de João do Rio.

http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/resumos_comentarios/a/a_alma_encantadora_das_ruas

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Indico SEBOS

 

 SEBO DO MESSIAS


Atualmente o SEBO DO MESSIAS, como é popularmente conhecido, é composto por três grandes lojas, todas estabelecidas no centro velho de São Paulo.
Messias nasceu em Guanhães, um pequeno município de Minas Gerais, em 1941.Viveu toda a sua adolescência com a mãe, professora da zona rural. Neste período, Messias desenvolvia atividades relacionadas ao campo, ocupando seu tempo, basicamente, com trabalhos na lavoura, porém, seu passatempo predileto era a barganha de objetos, atividade que sempre lhe proporcionava uma pequena margem de lucro.
Ao completar 21 anos, Messias, movido por seu espírito empreendedor, fez de Belo Horizonte, capital de sua terra natal, seu novo lar. Mas não seria, ainda, dessa vez que o jovem Messias conseguiria se estabelecer.
Após um período trabalhando em uma lanchonete em Belo Horizonte decidiu partir para o maior centro industrial e comercial do Brasil: São Paulo.
Em 1964, já na metrópole propulsora de grandes sonhos, Messias iniciou uma nova vida integrando a equipe de garçons do Restaurante Dom Fabrízio, ali permanecendo até 1966. No mesmo ano de 1966 inaugurou seu próprio estabelecimento, o Restaurante Messias. No entanto, a nova empreitada não rendeu o resultado esperado, fazendo com que Messias encerrasse as atividades de seu restaurante e iniciasse uma nova fase em sua vida, tornando-se vendedor externo da LEX EDITORA, colaboração que Messias mantém até hoje, agora como representante.
Um período marcante para a história de Messias e conseqüentemente para o SEBO DO MESSIAS foi o final de 1969. Além de grandes turbulências internas dentro do contexto social, político e econômico do Brasil, o ano foi um marco na história de vida de Messias: no final de 1969 foi inaugurado o primeiro SEBO DO MESSIAS, a primeira das três grandes lojas estabelecidas atualmente no centro de São Paulo.

Agora, após 38 anos de experiência como livreiro, Messias lança o site www.sebodomessias.com.br com parte do seu acervo agora acessível aos internautas, proporcionando a comodidade e praticidade das compras on-line.

Pedido aos passantes

Peço paciência

Administrar um blog dá muito prazer a quem faz, só que requer tempo e muita paciência...
Deste modo digo que as postagens serão feitas a partir de novembro...
Mais garanto que não se arrependerão de esperar

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

CURSO NA BNRJ

Em parceria com a Casa do Saber do Rio de Janeiro, a Revista de História da Biblioteca Nacional oferecerá o curso Brasil, Corpo e Alma, Grandes Temas da Identidade Nacional.
A partir de outubro, cinco encontros semanais abordarão alguns marcos que definem a alma – e o corpo – do Brasil, evocando temas antigos que permanecem como referências indeléveis em nossas motivações e sentimentos atuais.
Coordenado por Luciano Figueiredo, editor da Revista de História, o evento contará com a presença de Luiz Fernando de Almeida, presidente do Iphan; Lilia Schwarcz, antropóloga da USP; Claudia Márcia, diretora do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular; Renato Lessa, cientista político do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj); e Santuza Cambraia, socióloga da PUC-RJ. Assinantes da revista ganham 15% de desconto no valor total do curso
Mais informações podem ser encontradas no site da Casa do Saber ou pelo telefone (21) 2227-2237. Assinantes da Revista ganham desconto na inscrição. Confira abaixo a programação resumida. Veja os detalhes no site da BN.


Saiu na Revista de História da BN



Edição 49, outubro de 2009


Gazeta oitocentista








Da economia à literatura, do anúncio da fuga de escravos ao da venda de vestidos da moda, muitas são as possibilidades de pesquisa nos jornais oitocentistas.

Renato Venâncio


 Os jornais são uma fonte inesgotável para os historiadores. Nas páginas dos antigos periódicos foram registrados diversos aspectos da vida política, econômica, social e cultural do país. Quanto a isso basta citar o clássico livro de Gilberto Freyre, cujo título quilométrico é bastante elucidativo a respeito das potencialidades dos acervos jornalísticos: O Escravo nos anúncios de jornais brasileiros do século XIX: tentativa de interpretação antropológica, através de anúncios de jornais, de característicos de personalidade e de deformações de corpo de negros ou mestiços, fugidos ou expostos à venda, como escravos, no Brasil do século passado
No Brasil, a criação desse meio de comunicação data de 1808, quando a transferência da Corte portuguesa pôs fim à proibição colonial em relação à imprensa. Nesse mesmo ano, passou a circular em nosso território o Correio Braziliense, impresso em Londres, e a Gazeta do Rio de Janeiro.  
Reproduções das páginas pioneiras do Correio estão no site da Brasiliana da USP. Já a Biblioteca Nacional disponibiliza vários volumes da Gazeta em seu site, que também abriga coleções de outros jornais antigos, como o Idade d’Ouro do Brasil (1811-1818), da Bahia, ou O Conciliador (1821-1823), do Maranhão.
Mais de 50 mil páginas de periódicos mineiros do século XIX também podem ser acessadas através do Arquivo Público Mineiro, que oferece aos pesquisadores uma base com 267 títulos, como O Universal, jornal liberal que circulou durante vinte anos, um marco para a época. Ainda em Minas, a Universidade Federal de São João del-Rei e a Biblioteca Municipal Baptista Caetano d´Almeida constituíram um importante acervo jornalístico online, assim como a Coleção Linhares, pertencente ao site da Universidade Federal de Minas Gerais. Nela, estão reunidos os primeiros exemplares de periódicos que circularam em Belo Horizonte.
  Nas consultas pela rede, é possível cruzar os oceanos e também pesquisar os acervos jornalísticos de Portugal, onde as primeiras gazetas foram publicadas no século XVII. São duzentos anos a mais de material para os historiadores em sites como o Observatório da Imprensa e a Hemeroteca Digital.





Renato Venâncio é professor da Universidade Federal de Ouro Preto.


  

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Desta vez o bloguinho saiu




Caros amigos, desta vez o bloguinho saiu do campo das idéias. Foram diversas tentativas e também confesso força de vontade para escrever aqui. E tudo devido a preguiça!!! hahahaha

Espero, que através das resenhas e resumos de textos clássicos e outros que encontrar por aí possa ajudar estudiosos do samba. O meu foco de interesse é de 1850 à 1940. Porquê?
Neste recorte temporal  não trabalharei apenas com os textos clássicos sobre a história da música popular brasileira, mais alguns estudos que dêem conta de  história cultural e social do cotidiano da cidade do Rio de Janeiro. Pra isto temos como exemplo:Machado de Assis, Lima Barreto, João do Rio, Luiz Edmundo, etc.  
Pra começar os trabalhos, colocarei em breve uma bibliografia inicial que considero relevante para primeiro compreender o cenário carioca de 1850 à 1889.
Sugiro também que este espaço seja de troca constante com todos que aqui aparecerem. E desde já são muito bem vindos.
Quem sabe não seremos este BLOGUINHO não será uma referência,

Até breve

Andréa Santos

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Inaugurando o Espaço

Criei este Espaço para servir de auxílio para os interessados em História social do Samba.
Faz muito tempo que desenvolvo algumas pesquisas sobre a historia do samba nos primeiros anos do periodo republicano na cidade do Rio de Janeiro, e agora resolvi expor parte da minha pesquisa aqui neste blog.
É incrivel perceber a quantidade de pesssoas interessadas na pesquisa desta temática, só que o que em parte me estimula bastante é também observar que muitos estudam apenas figuras conhecidas por todo nós- como Noel Rosa, Chico Buarque, Sinhô, Pixinguinha; restringindo desta forma o campo de investigação.
O meu interesse como pesquisadora é puxar pra fora o que é desconhecido, e de certa forma tenho a sorte de sempre encontrar através das pesquisas nos arquivos públicos, pessoas que fizeram a diferença no contexto cultural e/ou social de uma determinada época. E é isso que estou fazendo ao estudar o samba.
Prometo, fazer deste espaço um diferencial para suprir de informações os interessados neste estudo. Vai ser muito bacana compartilhar com todos o que tenho investigado, lido e conhecido.
Um Espaço inaugurado com muito carinho.